Ítalo Conceição Oliveira e Marcelo Jerônimo da Silva (na foto, segurando o alvará de soltura, ao lado dos advogados) são dois jovens negros, trabalhadores e moradores do bairro Rua Nova, em Feira de Santana. Ambos são vítimas de uma situação, infelizmente, comum no Brasil: foram presos, injustamente, acusados de roubar um carro, embora nenhum deles saiba sequer dirigir um automóvel.
O caso teve grande repercussão em Feira de Santana e em toda a Bahia. Passaram 15 dias presos no Conjunto Penal de Feira de Santana, "comendo o pão que o diabo amassou". Nesse período, familiares e pessoas da comunidade fizeram vários protestos. O caso chegou à Câmara Municipal, através do vereador Marcos Lima, que conhece as famílias dos jovens e criticou a falta de critério da PM e Justiça para a prisão dos dois.
Após muita luta, Ítalo e Marcelo foram soltos – mas o processo ainda está em curso -, notícia dada em primeira mão pelo Protagonista (leia mais). Em entrevista ao radialista Sotero Filho, o Soterinho, da rádio Subaé, os dois jovens relataram o sufoco vivido no que chamam de “inferno”.
“Eu fiquei muito triste. Não aguentava mais aquele inferno. Muito sofrimento. Eu ficava me perguntando o motivo de tá lá”, conta Ítalo.
Ele lembra como aconteceu a abordagem policial. “A gente estava dentro de minha casa, brincando de dominó, à tarde. Os policiais chegaram já acusando e pedindo arma. A gente ficou ajoelhado. Tive medo de morrer e fiquei só chorando. Levaram a gente pra o Complexo Policial”, relata.
“Quando a gente foi pro Presídio eu deixei na mão de Deus. Na cela eu não parava de pensar na minha família e sabia que estavam lutando por mim. Lá dentro (do Presídio) o tratamento é o pior possível – nesse momento ele interrompe a entrevista bastante emocionado e chorando”, diz.
Marcelo se mostrou revoltado com a prisão injusta. “Tinha imagem minha trabalhando quando o carro foi roubado e não quiseram nem saber. Sai do trabalho e fui na casa de Ítalo brincar de dominó, como a gente faz às vezes. Aí você é acusado e paga por uma coisa que não fez, isso dói”, protesta.
“Mesmo com as imagens e o povo apoiando e defendendo a gente, eles não quiseram saber. A gente foi parar naquele inferno que é o Presídio”, acentua.
“Me deu ódio. Eu trabalho, não sou bandido e fui parar injustamente naquele inferno. Quero justiça e limpar meu nome. Não sou assaltante. Nem sei dirigir carro e nem moto. Só ando bicicleta cargueira pra trabalhar”, destaca Marcelo.
Os dias na prisão o jovem quer esquecer. “Pedi tanto a Deus pra ajudar a gente. Ele viu nosso sofrimento. Passamos sete dias dormindo na pedra, no chão, sem coberta, sem nada. Do lado do esgoto e as muriçocas só atacando a gente. Ninguém merece isso, ainda mais inocente”, concluiu o jovem. Os dois vão acionar o Estado e os acusadores na Justiça, por danos morais (leia mais).